terça-feira, 9 de agosto de 2011

Quem Multa a Polícia?

A maioria esmagadora dos autores de livros sobre liderança afirma que a “as pessoas fazem o que a gente faz, não o que a gente diz a elas para fazerem”.


De minha experiência de vida, seja como empregado, seja como consultor de empresa, seja como vizinho, seja como pai, enfim, seja em que situação for, sempre procurei pautar minha conduta nesta máxima.


Nas empresas é muito fácil de observar-se que quando o chefe não respeita o horário, seja ele o dono do negócio, seja ele apenas um empregado mais graduado, os subordinados, via de regra, seguem o seu modelo como trabalhadores, ou seja, se o horário de entrada é às oito da manhã e o líder, que não tem que “bater cartão”, só chega às oito e meia, normalmente este é o turno que seus liderados irão cumprir. Mesmo que eles cheguem antes das oito da manhã pois, tem que “marcar o ponto”, normalmente ficam em rodinhas de bate papo ou acessando a Internet, ou ainda simplesmente na “Operação Abelha” – ficam voando ou fazendo cera – até que o chefe resolva chegar e começar a trabalhar. Quem nunca presenciou este tipo de situação que atire a primeira pedra.


Ledo engano do chefe acreditar que os subordinados estarão seguindo suas orientações antes de sua chegada, eles, na verdade, estarão seguindo o seu exemplo.


Fato semelhante ocorre, por exemplo, nas garagens dos condomínios onde não existe efetivamente uma relação de hierarquia, mas deve haver uma relação de respeito mútuo. É muito comum existir a figura “do folgado” que para o carro de qualquer jeito na sua vaga, sem se preocupar com o vizinho. O pior da estória é que este “folgado” sempre é o primeiro a reclamar quando ele julga que o vizinho avançou sua faixa do estacionamento, ou qualquer outro tipo de situação em que se sinta prejudicado, afinal somente ele tem direitos, todos os outros apenas obrigações. Seu exemplo como vizinho e como cidadão é péssimo e normalmente se estende aos seus filhos que crescem como pequenos ditadores potencializando o mau exemplo recebido dentro de casa, pois os filhos também aprendem mais fácil o que vêem seus pais fazerem do que aquilo que eles possam lhes falar.


Infelizmente no Brasil a classe política que tem como principal responsabilidade em nossa democracia: legislar, governar e julgar, também não se pauta neste princípio pois, todos os dias os noticiários estão repletos de notícias sobre corrupção, roubalheira, falcatruas, nepotismo, empreguismo e muitos outros “ismos” que envergonham a nós, os cidadãos que os elegeram e esperam deles um exemplo mais digno de nosso voto e nossa confiança.


O motivo de toda esta introdução é relatar um fato que presenciei ontem pela manhã, mas que pode ser observado a qualquer hora, em qualquer rua de qualquer cidade do país, ou seja, o abuso de poder por parte da Polícia.


Quem nunca foi atrapalhado por um veículo trafegando muito lentamente em ronda, até aí tudo bem, mas ao invés de estar na faixa da direita para que o tráfego possa fluir, o veículo fica na faixa da esquerda, deixando os motoristas no dilema de ultrapassar a viatura pelo lado direito, o que configura uma infração de trânsito passível de multa? 
Quem nunca fez uma curva e deparou com uma viatura parada em fila dupla e os seus ocupantes estavam dentro de alguma padaria ou lanchonete tomando o seu merecido lanche? Este mesmo policial sai de seu lanche e vai aplicar multas aos pais que param seus veículos em fila dupla nas portas das escolas. Realmente, em ambos os casos a situação é a mesma e a infração de trânsito também.


Ontem pela manhã presenciei uma cena inusitada que passo a relatar a seguir. No bairro onde moro, existe um número muito grande de caminhões e carretas trafegando durante o dia e a noite devido à Lei de Zoneamento que permite a instalação e operação de transportadoras. As ruas são estreitas e esburacadas, sendo comum que dois “brutamontes” acabem tocando os espelhos retrovisores ou tendo que fazer verdadeiros malabarismos para que o trânsito possa fluir.
Por volta das nove e meia da manhã, uma viatura estava trafegando em ronda por um dos principais acessos ao bairro, quando presenciou uma Kombi estacionada sob a placa de “Proibido Estacionar”. O policial que estava na condução da viatura a parou em fila dupla bem ao lado da Kombi, restringindo ainda mais o tráfego e seu colega que estava no banco do carona abriu o talão de multas e lavrou a mesma sentado em seu banco, na maior tranqüilidade, como se tivesse todo o tempo do mundo para fazê-lo. Logo começou a formar-se um congestionamento, pois o local onde a viatura estava estacionada não permitia a passagem de nenhum tipo de veículo pesado pela rua. Passados quase cinco minutos, o policial desceu da viatura e colocou a multa no pára-brisa da Kombi, voltou calmamente para a viatura e só depois disso a mesma foi movimentada em velocidade de ronda, o que acarretou num cortejo fúnebre, não atrás de algum defunto, mas atrás do desrespeito e do abuso de autoridade. Os motoristas que estavam no final da fila e não podiam enxergar a viatura da Polícia buzinavam e “xingavam” os motoristas do início da fila que nada tinham a ver com o ocorrido.


Uma senhora que acompanhou a cena toda ao meu lado, antiga moradora do bairro, com seus cabelos todos branquinhos, acima dos setenta anos, olhou para mim com ar de desolação e perguntou-me:
 - “Moço, me diga uma coisa. Esse policial multou o homem da “perua” que estava estacionada no lugar errado, mas quem vai multar a Polícia?”
Encabulado, não tive coragem de olhá-la diretamente nos olhos pois eu também estava inconformado com o que acabara de assistir e apenas respondi com a voz envergonhada para ela:


- “Ninguém minha senhora, ninguém pode multar a Polícia!”
Inconformada ela completou:


-“Que péssimo exemplo esses “guardas” estão dando! Se fosse o senhor que tivesse parado em fila dupla, o que “ia” acontecer com o senhor?”


Sem ter que esforçar-me muito para pensar em uma resposta para a senhora de cabelos brancos, disse apenas três palavras:


-“Certamente seria multado.”


Sorrateiramente, ainda inconformado com o que havia testemunhado, continuei minha caminhada antes que a simpática senhora pudesse me fazer alguma outra pergunta e eu não soubesse como lhe responder. 


Durante o dia inteiro não comentei com ninguém o que havia presenciado logo cedo, uma vez que, situações como estas, são tão comuns em nossa querida Cidade de São Paulo que acabamos nos acostumando com elas como se fossem perfeitamente normais, pois, gostemos ou não gostemos, apesar dos pesares, a vida tem que continuar!

Um comentário:

  1. Luzeti Souza Barrella9 de agosto de 2011 às 16:02

    O PIOR de tudo é que você tem razão!!!!!
    E assim a vida continua.
    Bjs Lu

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